"Sim, sou um negro de cor"


O documentário "Ninguém Sabe o Duro que Dei", dirigido pelo humorista Claudio Manoel, estreia nesta sexta (15/05) e é o primeiro olhar do cinema sobre Wilson Simonal que, como diz Nelson Motta no filme, "virou um tabu, um leproso, um pária" na música brasileira.

Tudo começou em agosto de 1971, quando a popularidade de Simonal como cantor só era superada por Roberto Carlos. Suspeitando de que seu contador o roubava, ele mandou dar-lhe uma surra. O problema é que a surra foi dada por dois agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), serviço público cuja especialidade era torturar adversários da ditadura militar.

Um inspetor, Mário Borges, disse à imprensa que Simonal era informante do Dops, e a fama de dedo-duro nunca mais se descolou dele, jogando-o num longo ostracismo. "Ele pagou uma pena dura demais, desproporcional para uma surra, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia", afirma o comediante do Casseta & Planeta.

O cantor alegou ter recorrido ao Dops porque vinha recebendo ameaças terroristas e disse, talvez para impressionar, que tinha conhecidos na polícia política. Quando, mesmo sem provas, foi classificado como informante, ele se enrascou. Pela surra que mandou dar, Simonal foi condenado em 1972 a cinco anos e quatro meses, que pôde cumprir em liberdade. Pela fama de dedo-duro, pagou enquanto esteve vivo - e depois também.

Nascido em 1972, ano em que o pai foi condenado, o músico Max de Castro ressalta que Simonal não era politizado, daí ter pensado que era um trunfo dizer que conhecia gente do Dops. "Ele tentou usar a malandragem e o jogo de cintura. Não percebeu o tamanho da encrenca em que estava entrando."

Max, apesar de achar que o filme ficou incompleta, reconhece que o mais importante é que com depoimentos de Pelé, Miele, Chico Anysio e Tony Tornado, o documentário pode contribuir para que não sejam ditas frases como a ouvida por Cláudio Manoel de um frentista: "Pô, seu Casseta, vai fazer um filme sobre o cara que torturou o Caetano?"

Além de toda essa tragédia que marcou a carreira de Simonal, podemos ver em "Ninguém Sabe o Duro que Dei" a fase gloriosa do cantor. Seja fazendo comercial da Shell, cantando "The Shadow of Your Smile" com Sarah Vaughan, regendo o Maracanãzinho lotado ou, simplesmente, esbanjando malícia e balanço. Com toda certeza, Simonal foi um caso à parte na história da música brasileira.

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